PASSO FUNDO – CAPITAL NACIONAL DA LITERATURA
Repercutimos, nesta matéria, entrevista concedida por Nei Alberto Pies, editor do site, ao Jornal Brasil Popular, assinada por Adeli Sell (que também é Convidado deste site: https://www.neipies.com/author/adeli/). Nesta entrevista, Pies manifesta-se sobre as diversas atividades e iniciativas da cidade de Passo Fundo em prol da leitura e literatura local, regional e nacional na atualidade e em passado recente.
(Por Adeli Sell)
Conhecida como a “Capital Nacional da Literatura” devido à sua forte ligação com a leitura e a literatura, sendo sede de um dos maiores eventos literários da América Latina, a Jornada Nacional de Literatura.
A Lei nº 11.264 confere ao município o título foi sancionada em 2 de janeiro de 2006 pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
Tem uma população em torno de 215 mil habitantes, localizada no Planalto Central do Estado, dista 290 km da capital.
Região muito forte nos agronegócios, e conquistou este espaço na área da cultura.
Para saber mais, vamos falar com o professor Nei Alberto Pies que tem um site – www.neipies.com – com uma verdadeira legião de leitores. É um sucesso e um fenômeno, porque publica textos mais densos, focando na filosofia, educação e espiritualidade.
P – Passo Fundo faz jus ao título de Capital da Literatura?
R – Nossa cidade tem um histórico e um trabalho de décadas em prol da leitura e da literatura, impactando dezenas de municípios desta grande região. Passo Fundo já mereceu este reconhecimento, mas hoje vivemos um momento de “adormecimento” desta pauta, embora ainda se mantenham vivas e atuantes pessoas e entidades que trabalham pela importância da Literatura. Temos na cidade uma Academia de Letras bem atuante, temos uma “Sociedade de Poetas Vivos” e temos grupos e entidades de teatro, música e, felizmente, ainda temos duas ou três boas livrarias abertas.
P – As jornadas continuam ou há problemas de financiamentos como outros eventos de tal grandeza?
R – Tivemos dificuldade de financiamento da Jornada de Literatura, também por ela ser um evento de uma grande magnitude e de altos custos. Por outro lado, a Jornada já tinha se distanciado um pouco da ideia inicial de ser parte de um movimento de leitura e literatura. Já acontecia apenas como evento literário. O seu cancelamento ocorreu em 2015. Houveram tentativas de retomar este evento já, reunindo novamente UPF, Prefeitura Municipal e financiadores, mas sem a magnitude de antes. Por ora, está “cancelada”. Ainda em 2015, já manifestamos que cancelamento não era uma tragédia, mas exigia que todos priorizassem novamente projetos de leitura e literatura, estruturação de bibliotecas escolares, mais apoio e incentivo às livrarias locais, realização de mais eventos de promoção de leitura e literatura.
P – Vocês têm uma Academia de Letras local? Pode falar um pouco dela?
R – Temos a APLetras (Academia Passo-Fundense de Letras), uma entidade da sociedade civil que tem uma atividade cultural expressiva e de grande impacto na sociedade passofundense. Funciona regularmente, reunindo os 40 membros da Academia. Promove atividades culturais e de promoção de leitura e literatura aos sábados, abertas à comunidade. Faz eventos literários e de promoção de leitura junto a seu histórico e imponente prédio. É copromotora das últimas Feiras do Livro da cidade.
P – Quais outros eventos na área da cultura que poderiam ser destacados?
R –A Feira do Livro, Festival Internacional do Folclore, Festival Tio Mena três grandes atrações culturais de Passo Fundo. Passo Fundo sempre projetou-se com a realização de eventos nacionais e internacionais, nas diversas áreas de conhecimento. Inclusive, em Passo Fundo, realizou-se em 2025 o X Colóquio Nacional de Direitos Humanos, bem como já houve aqui a realização de Colóquios Nacionais e Internacionais de Educação Popular.
P – A Universidade de Passo Fundo tem uma projeção muito grande em algumas áreas. Qual a sua contribuição no caso da Cultura?
R: A UPF é uma universidade comunitária, historicamente sempre presente nos eventos e na formação humana e profissional de uma grande maioria da população desta grande região no entorno de Passo Fundo. Além de manter sua estrutura do Campus Central aberto à toda população, promove e apoia eventos de entidades que tratam as temáticas de educação, cultura e literatura. Foi sempre a promotora das Jornadas Nacionais de Literatura, junto com demais entidades promotoras. Mantém o curso de Letras, bastante identificado com práticas e leitura e literatura, formando profissionais desta área em toda região.
P – Qual o papel de destaque das mulheres na cena cultural local?
R – Temos na cidade uma cultura ainda bastante provinciana e machista, que ainda não permite a participação e o protagonismo mais ativa das mulheres nos espaços de poder. A luta e a resistência das mulheres permitiram que tenhamos uma mulher Reitora da UPF (Universidade de Passo Fundo), uma presidente da Academia Passo-Fundense de Letras, 04 mulheres vereadoras (depois de um período recente onde ficamos sem nenhuma representatividade feminina). Tivemos e temos diferentes protagonismos femininos na educação, área de saúde, comércio e serviços. No entanto, ainda temos pouco protagonismo em cargos de maior poder e representatividade na sociedade passofundense.
P – Fala um pouco do seu site, como surgiu, como se mantém, quem escreve, sua repercussão?
R – Nosso site tem 10 anos e é uma experiência colaborativa, que busca a humanização através dos conhecimentos críticos e reflexivos. Não competimos com o jornalismo, mas publicamos reflexões. Temos, desde o início, a participação de cerca de 80 pessoas que escrevem e publicam no site. Já ultrapassamos mais de 1200 publicações e temos quase 1 milhão e duzentos mil acessos. Surgiu para permitir espaço à escritores livres, preferencialmente professores, artistas ou estudantes, desvinculados de jornais, revistas ou impressos, mas que entendem a importância de também comunicar. Mantém-se atualmente com o idealismo e financiamento do seu idealizador, mas com amplo reconhecimento e repercussões junto a estudantes (ensino médio/universitário), professores e professoras, ativistas sociais da região de Passo Fundo e do Brasil. Pode-se afirmar que deve ser uma das únicas iniciativas no Brasil, feita de professores para professores, que busca de maneira artesanal e autoral, afirmar ideais de ser humano e sociedade na perspectiva crítica e libertadora, combatendo todos os tipos de alienação.
P – O que mais gostaria de destacar?
R – Gostaria de agradecer esta oportunidade de falar de Passo Fundo, cidade que adotei como minha, e de também situar as inúmeras e valiosas iniciativas que pessoas e entidades constroem para tornar a sociedade mais humanizada e mais justa a partir da leitura, da literatura, da arte e da cultura, de modo geral. Defendemos uma cidade e uma sociedade plural, onde a democracia e a justiça sejam pilares da vida em sociedade. Onde a vida e a dignidade humana possam ocorrer de maneira mais ampla, pois como já nos ensina a Música “Comida”, da Banda Titãs: “a gente não quer só comida/a gente quer bebida, diversão, balé/a gente não quer só comida/a gente quer a vida como a vida quer”.
FONTE: https://brasilpopular.com/passo-fundo-capital-nacional-da-literatura/
Edição: A. R.