O ano de 2008 lembrou os noventa anos da publicação do livro de contos Urupês, de Monteiro Lobato, obra pulicada em 1918. Tido como sua obra obra-prima, o livro é composto por 13 contos, sendo que o décimo-quarto é uma crônica, no qual o autor descreve a imagem do índio que virou caipira, apresentando-o como uma “raça intermediária” que perdeu o primitivismo do índio. Em “Urupês” a figura mitológica do caboclo atrasado e indolente é personificada na personagem Jeca Tatu.
Decorridos noventa anos desde sua criação, vez que outra, a imagem do Jeca Tatu continua presente no cenário nacional reacendendo antigas polêmicas. Nos tempos de Lobato, a frase-chave da personagem era “não paga a pena”, hoje ela aparece renovada, mas com o mesmo sentido, especialmente entre determinados grupos de jovens: “Não dá nada” , “Não tô nem aí”, “Sei lá”. Naqueles tempos Jeca Tatu não sabia em quem votar, mas hoje, travestido de moderno, o velho Jeca Tatu segue as dicas do IBOPE, troca o voto por dentaduras e espera, passivamente, algumas esmolas do governo.
Em 1947, Monteiro Lobato cria os folhetim Jeca Tatuzinho e Zé Brasil. Neles o autor passa a limpo o velho Jeca Tatu, transfigurando-os à luz de um novo contexto: o da saúde pública brasileira corroída pelas endemias. “O Jeca não é assim, está assim”, escreve Lobato. A partir de então, os folhetins apresentam histórias do Jeca curado das endemias, invertendo-lhe, por efeito, a percepção anterior, que atribuía ser a preguiça e a indolência as causas do seu caráter negativo. É a magia da arte.