Quando poderia estar descansando da atividade literária, põe-se à frente do cavalete e cria mundos imaginários, de rico colorido, carregado de símbolos da cultura popular e religiosa do sul do Brasil. Até o momento o ápice de sua criação como artista visual foi narrar através de crônicas visuais a história da atividade saladeril de Pelotas, no século XIX, sob o ponto de vista dos escravos.
Abrimos duas “janelas” para ver a criação literária do escritor-pintor:
Na sujeira das unhas achei uns versos – 6
se você é capaz de carregar
na palma da mão uma bolha
de sabão sem destruí-la é
porque experimentou na alma
a força do amor não vulnerável
caminhe pela estrada pedregosa
e sinta-a como o caminho ao
aconchego da alma encarcerada
no corpo magoado que titubeia
sobre pés cansados de andar
abra os olhos e veja além do
que é visto de sol a sol enquanto
teu espírito goteja como orvalho
nas verdes folhas de uma planta
escondida no labirinto do jardim
cale a boca se vida não podes
dar ao poema que morre à língua
nas manhãs serenas de tua vida
enquanto andas por aí sob as
ordens do tempo que escraviza
As perguntas que Neruda não fez
Por que os anos não têm a majestade e
a longevidade das figueiras?
Os meses vagueiam pelo ano como
centopeias grávidas de números?
Não será o ano um dromedário
que morre aos 12 meses?