Se os parceiros estão de acordo e um não obriga, ameaça,
causa dano e não usa o outro somente como meio, mas como fim em si mesmo,
onde está o erro? Se a decisão é livre e consentida, onde o mal?
Se o amor liberta e não escraviza, onde o mal? Na forma do amor?
No princípio do amor cristão que diz: ame o próximo como a ti mesmo,
por acaso, há alguma menção de restrição nas formas de amor?

 

 

Não é prudente emocionalizar a conversa sobre a cura gay, defendida por conservadores religiosos e criticada por libertários que sustentam, estes, a impossibilidade de cura, já que só há cura onde há doença curável. E esse não seria o caso.

Meu filho é gay, como lidar? Monja Coen, Zen Budismo.

Um pouco de luz da razão pode amainar os ânimos. Parece-me que a questão é de pressupostos não compartilhados e, nesse caso, já que é impossível um assumir o paradigma do outro, como defende Thomas Kuhn, então, tudo o que podemos almejar é a tolerância entre as duas comunidades: conservadores e libertários.

O grupo conservador parte do pressuposto de fé e de crença e o grupo libertário, ou progressista, como queiram, parte do pressuposto da ciência.

Ambos os pressupostos são respeitáveis. Mas, podem ser duas pontes paralelas ao infinito, se um não escutar e tentar compreender o que o outro tem a dizer.

Escutar e compreender não significa aceitar o argumento do outro, mas pode significar, no mínimo, convivência civilizada com o outro, sem diminui-lo ou demonizá-lo. Penso que seja o máximo que se possa alcançar nesse campo de batalha.

 Mas, se mudarmos a conversa e passarmos da fé e da ciência para a filosofia moral, ou à ética, então, quem sabe, poderemos almejar algum progresso e acordo no que é essencial.

A ética levanta a seguinte questão: o que há de errado em ser homossexual? E se não há nada de errado, porque então insistir em querer que os que são, mudem e deixem de ser?

Do ponto de vista moral, errado é sinônimo de mau e certo é sinônimo de bom. Se uma criança me ler, eu diria para ela: errado é o que é feio, ponto. Voltando e subindo um degrau. Bom e mau, moralmente falando, são absolutos relativos à circunstâncias e a contextos. Não há absolutos puros e nem há relativismos puros, moralmente falando. E onde há, pode crer que paradoxos acontecerão. Essa é uma conversa para especialistas e como tal, chata. Conversa chata já há demais, não pretendo endossar a fileira…

O que não seria chato na pergunta: a homossexualidade carrega em si algum mal? Ou, para me repetir: o que há de moralmente errado em ser homossexual? Vou direto ao ponto e faço o meu juízo: nada.

Por que não há nada de errado? Estamos, agora, no âmbito da razão. Do juízo, nada, para a razão do juízo, isto é, por que não há nada? Para isso, é preciso encontrar algum critério. E o meu critério é Kantiano.

Kant apresenta um critério moral que diz: “age de tal forma que a máxima de tua ação possa ser universalizável”. Isto é, age de tal forma que todos igualmente possam desejar e fazer o mesmo, sem prejuízo a ninguém.

Segundo esse princípio alguém poderia objetar e dizer que a homossexualidade não pode ser universalizável pois, se todos fossem, haveria um problema de reprodução da espécie. Se você pensa assim, caro/a leitor/a saiba que esse argumento, hoje, está amplamente refutado. A ciência genética resolveu esse problema, o que deve deixar um conservador um pouco desconfortável.

Mas há um outro argumento de Kant que me parece ainda mais irrefutável, no sentido de que não há nada de errado na homossexualidade. O segundo argumento de Kant diz: “Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca, simplesmente como meio”.

Pergunto: se os parceiros estão de acordo e um não obriga, ameaça, causa dano e não usa o outro somente como meio, mas como fim em si mesmo, onde está o erro? Se a decisão é livre e consentida, onde o mal? Se o amor liberta e não escraviza, onde o mal? Na forma do amor? No princípio do amor cristão que diz: ame o próximo como a ti mesmo, por acaso, há alguma menção de restrição nas formas de amor?

E tem mais. Se duas pessoas que se amam não causam mal uma a outra, por que cargas d’ água causaria mal a mim que estou de fora da relação? Se eu gosto de chocolate 85% cacau, vou me incomodar e exigir que quem gosta de chocolate ao leite deixe de gostar? A comparação não é fora de propósito.

Não há nada de imoral na homossexualidade. A questão é de gosto e de estética. E não é de escolha, pois eu não escolho gostar de chocolate de cacau 85%, a natureza me impõe, e eu adoro…!

 Santo Agostinho dizia: ama e faz o que quiseres. Eu suponho que Agostinho quis dizer que quem ama só faz uma coisa: o bem. O amor é a cura!

Homossexualidade – Com Dráuzio Varella.

 

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