A democracia que temos já não tem política.
Nela, o futuro se ausentou porque
as palavras não autorizam expectativas.
Será preciso reinventá-la, entretanto,
antes de desesperar.

 

Há tempo que a criminalização daqueles e daquelas que lutam por melhores condições de dignidade humana vem sendo denunciada no Brasil e no mundo. É inaceitável, numa democracia, que a violência instituída (violência policial) seja aceita como normal e necessária.

O Estado, instituído como guardião dos direitos, viola os mesmos quando reprime, violentamente, através das ações policiais, aqueles e aquelas que, pacificamente para buscar educação, terra, trabalho, saúde, segurança, lazer.

Ordem, associada ao progresso, move o imaginário daqueles que tem a ilusão de uma democracia ideal e pura. Mas a democracia acontece nas contradições, na dureza da cidadania cotidiana, difícil de ser construída. Nem todos estão convencidos de que a democracia pode conviver com uma “certa desordem”.

Em artigo publicado no Jornal Zero Hora, Nei Alberto Pies se posiciona sobre os desdobramentos do momento histórico brasileiro: “Descobrimos que somos também um país corrupto e onde corrupção passou a ser institucionalizada como prática de Estado, não só de governos. Onde grandes empresas, pelo menos nos últimos 30 ou 40 anos, mandam e desmandam os destinos de nosso país, associando-se a políticos das diferentes matrizes ideológicas para perpetuar seus enormes interesses econômicos. Todo mundo sabe da saturação da gente com o problema da desonestidade e corrupção. O problema não está em noticiar sobre o tema (afinal se este não é tema relevante, qual será?). A questão é noticiar todo dia como se fossem novas e mais sofisticadas formas de corrupção, quando sabemos que estão falando “mesmo do mesmo”. Veja mais aqui.

 

Como já escreveu Juremir Machado da Silva, “não existe democracia sem caos, confusão, entropia. A democracia é o sistema do dissenso. Na verdade, a democracia é um equilíbrio instável de ordem e desordem. Em alguns momentos, a desordem é mais importante do que a ordem. Tudo, claro, depende do grau de ordem e desordem”.

A criminalização é a face perversa do Estado e da sociedade que não permitem que a cidadania seja exercida na perspectiva dos “sujeitos de direitos”.

Quem luta por seus direitos, e pelos direitos dos outros, é ligeiramente taxado, acusado e condenado sumariamente. Os estigmas e preconceitos sociais atribuídos àqueles que lutam anulam a vivência de uma cidadania plena e ativa.

Autor Herson Capri na resistência ao retrocesso social de Temer. Assista esta importante entrevista que fala de todos os ataques aos direitos dos trabalhadores e do clima de hostilidade em que se encontra a população brasileira para emitir opiniões.

 

O diálogo, em busca dos consensos possíveis, constitui a ordem democrática, muito antes das leis e das imposições arbitrárias. Quando perdemos a capacidade de escutar, de sentar à mesa para negociar, não chegamos a consensos e acordos que, mesmo que provisórios, são sempre necessários para qualquer perspectiva de avanço dos direitos em questão.

A democracia nasce das palavras, da retórica e da persuasão. Por isso mesmo, manifestar-se não pode significar só gritaria, de um lado, e repressão, de outro. Sempre é preciso colocar os pleitos à mesa, estar aberto para ouvir e dialogar.

“O Congresso, todo atolado em corrupção, quer derrubar Temer e escolher o novo presidente. Mas não podemos permitir. É por isso que vamos às ruas pedir #DiretasJá. Só Eleições Diretas garantirão que as reformas propostas pela elite política e econômica deste país não afetem a vida de todos os trabalhadores e trabalhadoras deste país.

 

Quem responde pelo Estado, bem como quem marcha nas ruas, precisa colocar-se em movimento, para construir soluções e encaminhamentos provisórios. Ninguém sai de uma manifestação com os direitos já conquistados, mas toda manifestação pode indicar avanços para a materialização dos mesmos. Nesta perspectiva, temos todos muito que aprender.

Como escreve Marcos Rolim, “a democracia que temos já não tem política. Nela, o futuro se ausentou porque as palavras não autorizam expectativas. Será preciso reinventá-la, entretanto, antes de desesperar. Porque o desespero é só silêncio e o melhor do humano é a palavra”.

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