Embora um debate antigo, ocorrido há mais de 100 anos, contém uma atualidade educacional impressionante. Pois, que educador consciente e comprometido com a educação negaria qualquer um dos princípios de ensino destacados neste texto?

 

Em reflexões anteriores, procurei resumir algumas ideias do pensamento pedagógico de Johann F. Herbart. Muitas de tais ideias não são exatamente aquelas que Dewey atribui ao pedagogo alemão.

Dewey, assim como outros pensadores, padece do pathos do grande pedagogo, de muitas vezes não fazer uma hermenêutica profunda do texto de autores com os quais dialoga. Isso o conduz, algumas vezes, a simplificar excessivamente as ideias de outros pensadores. Isso é sintomático da leitura que faz de Herbart.

Herbart é defensor do conteúdo e do trabalho intelectual do professor. É neste contexto que ele torna-se grande defensor da formação intelectual múltipla do educando, fazendo uma defesa clara do papel do educador e da importância dos conteúdos no processo educativo.

O maior problema do Brasil é o completo abandono da educação e sabemos que é proposital. No livro de Humberto Eco, lemos que somente o clero tinha acesso a educação, os plebeus não, pois assim se mantem os dominantes e os dominados. no Brasil, como em países comunistas, onde o governo tira a qualidade da educação para o povo, retira princípios cristãos, oculta o civismo e destroem a instituição família, dão esmola e remédios para se manter no poder. A educação é a base de tudo.

 

Foi também foi o defensor do desenvolvimento múltiplo das disposições espirituais do educando, desenvolvendo a importante ideia de que o ensino é movido por interesses. Ou seja, são os interesses do professor e do aluno que definem a qualidade do processo pedagógico.

É tarefa do professor tornar o conteúdo interessante ao aluno. A escola e o professor tornam-se enfadonhos quando não conseguem fazer isso.

Nas palavras do próprio Dewey: “Herbart aboliu a ideia das faculdades já dispostas e que podiam adestrar-se por meio do exercício com toda classe de materiais, chamando atenção sobre a matéria de estudo concreta, sobre o conteúdo que era decisivo”. Ou seja, contra o inatismo pedagógico, ele apostou na educação como desenvolvimento das disposições humanas, baseado no conteúdo. Por isso, sua ênfase na formação intelectual múltipla do educando.

Contudo, aos olhos de Dewey, a teoria educacional de Herbart, por ser representante típica da perspectiva conservadora, possui muitos limites. O principal deles, ao focar nos conteúdos e no trabalho do professor sobre o conteúdo, consiste em menosprezar a capacidade ativa do aluno.

Este documentário, produzido pela Unowebtv, da Unochapecó, tem o intuito de levantar questões relacionadas ao constante processo de transformação do mundo, da sociedade, da tecnologia e como isso afeta a educação hoje e a afetará no futuro. São apresentados pontos de vista diversos que contribuem para um debate acerca da educação que temos e da educação que precisamos.

 

Mais especificamente, Herbart ignora a concepção de ser humano como “ser vivo com funções ativas e específicas que se desenvolvem na direção e combinação que têm lugar quando se encontram ocupadas com seu ambiente”.

Inserindo-se bem no espírito das Reformas pedagógicas do final do século XIX e início do século XX, Dewey torna-se adepto da postura ativa do aluno e dos métodos pedagógicos que incentivam tal atividade. Era comum, por isso, no início do século XX, pedagogos tornarem-se progressivos e Democracia e Educação insere-se neste amplo movimento que domina a Europa e chega com força também nos Estados Unidos.

O que está em jogo aqui?

É a diferença fundamental entre duas teorias educacionais: uma, a de Herbart, que aposta no desenvolvimento das disposições intelectuais do aluno por meio do trabalho conceitual do professor. Formação é, neste sentido, o desenvolvimento das disposições intelectuais, provocado pelas gerações mais velhas sobre as gerações mais novas.

A outra teoria, que é a do próprio Dewey, deposita peso na experiência elaborada pelo aluno, a partir daquilo que o ambiente exige dele, e toma isso como fator decisivo de seu próprio desenvolvimento intelectual.

Em síntese, o grande limite da teoria educacional conservadora, da qual Herbart seria, aos olhos de Dewey, um bom representante, consiste no fato de que ela, ao acentuar a influência do ambiente intelectual sobre o espírito, “passa por alto o fato de que o ambiente implica uma participação pessoal em experiências comuns”.

A ênfase que o pedagogo alemão dá na formação intelectual do educando, baseada no domínio do conteúdo pelo professor, só ocorre, segundo Dewey, porque ele não considera adequadamente o papel que o ambiente desempenha na formação do próprio educando. Ora, Herbart ignora o papel ativo do educando como aspecto decisivo na constituição do próprio ambiente.

A postura conservadora dá ênfase ao papel intelectual ativo do professor, menosprezando o fato de que o próprio aluno é um sujeito ativo que só aprende se tiver a oportunidade de exercitar pela experiência suas disposições intelectuais. Neste sentido, educação não é só transmissão de conteúdo, não é só ênfase nos conteúdos, mas exercício ativo sobre materiais dados, considerando pedagogicamente o modo como o educando trabalha com os materiais.

Herbart e Dewey são dois gigantes que projetam olhar distante, abrindo novos horizontes no âmbito das questões pedagógicas. São grandes oceanos de seus próprios séculos. Não devemos por um contra o outro como se somente um tivesse toda a razão e, o outro, totalmente errado. O diálogo inteligente é capaz de reter o que cada um possui de interessante e descartar pontos de vista equivocados.

De qualquer sorte, este debate ocorrido no início do século XX, entre grandes teorias educacionais, contém ideias importantes de uma teoria educacional atualizada.

Para ser uma boa educação, o ensino precisa: a) deter-se seriamente na elaboração do conteúdo: sem conteúdo não há educação; b) formar o professor para que possa trabalhar pedagogicamente com o conteúdo, levando em conta o papel ativo desempenhado pelo ambiente; c) partir do mundo de experiências do educando, considerando sua capacidade ativa de construir suas próprias experiências e d) por fim, contribuir para a elevação cultural do próprio aluno.

Deste modo, como se pode observar, embora se trate de um debate antigo, ocorrido a mais de 100 anos, contém uma atualidade educacional impressionante. Pois, que educador consciente e comprometido com a educação negaria qualquer um dos princípios de ensino resumidos acima?

 

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