A arte desperta, em todo mundo, grande fascinação.
Entre o valor de uma obra e o reconhecimento, estão os artistas,
aqueles que emprestam suas almas para transformar
a dureza da vida em encantamento, colocando
humanidades-em-movimento
.

 

Com a arte, o artista ganha mais do que dinheiro, ainda que não seja o suficiente para dar-lhe sossego financeiro.

Dias atrás, enquanto finalizava a tela “Marjorie Ferry visita Van Gogh”, da série “Visitando os Clássicos”, surpreendi uma jovem debruçada no parapeito da janela do estúdio, observando o trabalho que se encontrava no cavalete. Tomei o cuidado para não distraí-la da observação. Era de estatura baixa, pescoço alongado (lembrando as figuras de Modigliani), rosto miúdo e simpático, olhar muito vivo, cheio de expectativas, abundante de vida.

De súbito descobriu minha presença. Demonstrou surpresa. Sorriu de forma tímida, arreganhando de forma divertida o lábio superior.

– Estou admirando – disse, desviando o olhar em direção à tela. – Muito bonita! Quero ser artista também.

– Que bom – retruquei, admirado com sua espontaneidade.

-Quem é a mulher da tela?

Contei-lhe rapidamente a génese do trabalho. Ela ouviu-me atentamente, olhar transbordando vivacidade.

-Que legal! – disse após minha rápida análise.

– Eu passo todos os dias por aqui – comentou. – E quando não tem ninguém eu paro e observo o ambiente, as telas, o cavalete… Tudo chama minha atenção. Alegra meu dia.

Ao referir-se à alegria que se lhe tomava o espírito seu olhar marejou. Disfarçou olhando para os pés, ajeitando rebelde mecha de cabelo.

Fui tomado pela emoção. A jovem, com seu depoimento, referia-se ao valor da arte que extrapola a atividade de transformá-la em objeto de comercialização. Reportava-se, de maneira singela e ingênua à capacidade que ela, a arte, tem de encantar, de alimentar a alma, transformando-a num pássaro de velozes asas, levando-o em direção à catártica liberdade de ver e sentir.

– Muito obrigada! – disse ela sorrindo um tanto sem jeito. E foi-se, deixando a janela vazia, como figura feminina se libertando de uma moldura.

Sentei-me, olhando a tela que acabara de pintar. Havia nela qualquer coisa de diferente. Era como se o olhar da jovem a tivesse encantado e transformado.

Visitando os Clássicos No universo de Tamara de Lempicka “Marjorie
Ferry visita Van Gogh” Acrílica s/tela 80×80

 

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